Complexo Cultural Glauber Rocha é o local ideal para eventos públicos em Vitória da Conquista?

prates bonfim

Por Mariana Kaoos

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… A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim. Tudo é igual, mas estou triste porque não tenho você perto de mim…” Ronie Von.

Se tem uma coisa que Vitória da Conquista tem de bom são as inúmeras praças espalhadas por toda a cidade. Nelas, além de bancos, gramados e árvores, há também um encanto e um charme especial que dão vazão para que os encontros aconteçam. Sim, encontros dos mais variados tipos. A Praça Tancredo Neves, por exemplo, é famosa por comportar amantes apaixonados. Geralmente eles compram pipoca ou algodão doce, por vezes até maçã do amor, e ficam sentados, com mãos entrelaçadas, trocando carícias e beijos molhados. Já a Praça Guadalajara é onde as tribos musicais se juntam. É comum passar por lá no meio da tarde e ver uma rodinha de meninos e meninas vestidos de preto ouvindo rock, como também adolescentes mais coloridos com o violão na mão tocando alguma canção de reggae.

Outra praça não menos importante é a Barão do Rio Branco. Tá, seu formato e sua proposta são totalmente diferentes. A Barão fica no miolo, no centro da cidade, onde o comércio, os acontecimentos e a vida conquistense pulsa. Ao seu entorno inúmeras casas de venda se concentram. Lojas de eletrodomésticos, bancos, restaurantes e bancas de revista. Na Barão não há lugar para sentar, nem gramado. As árvores são poucas e os transeuntes muitos. É lá que a cidade transpira. E era lá que as festas produzidas pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista aconteciam.

Ah, quem é que não se lembra como era gostoso os shows na Barão do Rio Branco? Em dia de festa, as calçadas eram tomadas por barraquinhas de comida, vendedores de cerveja, de espetinho de carne, de caldo de pinto. No centro ficava o palco e, atrás dele, os banheiros químicos. Nessa época do ano era comum trocar mensagens com os amigos do tipo: “Então tá combinado hoje na praça, lá pelas 19h, lado esquerdo do palco, né?”. Depois de meia hora do combinado, a praça lotava e era impossível passar. Muito barulho, muita conversa, muita risada, muita dança. Os prédios antiguerrimos serviam de cenário para as surpresas, que sempre eram boas.

Foi na Barão do Rio Branco que Milton Nascimento se apresentou para um público apaixonado. Foi também lá que Gal entoou os versos de Vapor Barato. Otto, Tulipa Ruiz, Pepeu Gomes. Flávio José, Fulô do Cangaço, Targino Godim. Lenine, Zeca Baleiro, Nando Reis. Achiles Neto, Marlua, Ítalo Silva. Nomes de todos os tipos, de todos os estilos musicais passaram por lá em eventos como Festival da Juventude, Forró Pé de Serra do Periperi e Natal da Cidade. Tudo acontecia de maneira muito mágica. Tudo acontecia de uma maneira muito mágica até que o espaço da praça foi se tornando insuficiente para o contingente de pessoas que consumiam o lugar. Aí, a prefeitura teve uma iniciativa muito bacana e criou o Complexo Cultural Glauber Rocha.

O Complexo Cultural Glauber Rocha está localizado na Avenida Brumado, logo depois da Avenida Integração, mais conhecida como Rio-Bahia. Ele fica bem do ladinho da feirinha do Bairro Brasil. É um espaço gigantérrimo (acredito que caibam em torno de quinze mil pessoas) com uma super estrutura de banheiros e salinhas que, a depender do evento, viram stands e pontos de comércio. O feeling de construí-lo e oferta-lo à população foi dos bons. E, como previsto, o Festival da Juventude, Forro Pé de Serra e Natal da Cidade foram transferidos para lá.

Se por um lado a estrutura, a segurança e o conforto que o Complexo oferece são maravilhosos, por outro a magia dos encontros morreu. Para quem frequentou a Praça Barão do Rio Branco como eu frequentei, para quem sentiu o encanto dos acontecimentos por lá, ir a algum evento nesse novo espaço é algo de uma aridez sem tamanho. Isso mesmo. É morno. É insosso. Quase que não tem graça alguma. Lá as pessoas ficam espalhadas demais e venta como o quê. Tudo acaba se tornando muito distante e uma sensação de estranheza paira pelo Glauber. O palco é melhor que o que construíam na Barão, mas ele passa uma terrível sensação de distancia. É como se o público e o artista fossem realmente duas coisas totalmente distintas uma da outra e tivessem que permanecer dessa maneira.

É difícil tentar explicar, mas é como se a coisa não fosse nossa. Na Barão do Rio Branco nós nos reconhecíamos na cidade, no espaço, nas apresentações, nos vendedores de comida e bebida. Na Barão do Rio Branco nós tínhamos a opção de subir,  ver as luzes e andar de charrete na Tancredo Neves, ou de descer e acompanhar outros shows na Nove de Novembro. Se o cansaço pintasse, havia a opção de se dirigir ao terminal, pegar um ônibus e, consequentemente, gastar menos. Na Barão do Rio Branco era impossível ficar transitando por conta do aperto, mas até ele era gostoso. Nos shows a impressão que se tinha é que todo mundo curtia junto. Dançava e cantava e pulava como se fossemos apenas uma coisa só, como uma família. Um público híbrido, mas que naquele momento entrava em sintonia e virava um grande e concentrado ponto de energia.

No Complexo Cultural Glauber Rocha ainda não há nada disso. Não há encontros, mesmo que as pessoas se encontrem. Dessa maneira é difícil permanecer. E muito embora nomes valiosos da cultura nacional e local se apresentem no espaço, tornam-se insuficientes para o desconforto e falta de encanto que o Complexo oferece. A noite de ontem, 19, foi a primeira do Natal da Cidade desse ano.

E foi tudo muito estranho, muito frio, muito diferente do que era a primeira noite do Natal da Cidade de três, quatro anos atrás. Não houve burburinho, tampouco aquela excitação de que as apresentações começassem logo. Alguns questionamentos acerca do evento como para quem ele é direcionado, qual o critério de escolha das atrações, dentre outras coisas surgiram e, assim sendo, tornou-se possível observar expressões descontentes no público que compareceu. Mais do que pensar na estrutura e conforto do espaço, ou focar na produção dos eventos culturais, talvez a prefeitura e a própria comunidade conquistense também tenham que começar a refletir de que forma elas vão trazer a magia, a paixão, a avidez e os encontros para o Complexo Cultural e fazer com que aa gente da terra se reconheça naquele lugar. Acredito, pessoalmente, que no momento seja esse o nosso grande desafio.

 



Cultura, Vitória da Conquista

Comentário(s)


13 responses to “Complexo Cultural Glauber Rocha é o local ideal para eventos públicos em Vitória da Conquista?

  1. Eu acho o espaço Glauber Rocha perfeito e precisa ser valorizado. A Praça Barão do Rio Branco era um improviso, conturbava o trânsito aumentando o stress do final de ano- além de apertada, incômoda, não permitia a visão do palco para todos em todos os ângulos. Com o tempo os moradores da zona leste/sul irão se acostumar a se deslocarem para a Avenida Integração, deixar o preconceito com o lado oeste de lado e aproveitarem o espetáculo, as comidas e bebidas oferecidas e muito mais. Eu vou sem problemas.

  2. O título fez-me lembra a Revolta da Vacina, em 1904.

    Por que o ser humano tem tamanha dúvida e resistência a mudança?

    Logicamente aquele espaço do centro da cidade não era mais conveniente para esses eventos. Quase todos os que compareceram aos eventos, até então, realizados no espaço Glauber Rocha, tem feito elogios. Para quê tanta resistência??!!

    1. Verdade!
      Nunca vi tanto mimimi num texto só!

      Pelo amor de Deus! Onde que os eventos na Barão do Rio Branco eram melhores do que no Glauber?

      Sem estrutura, mal cabiam as pessoas, risco de ser roubado o tempo todo. Preços abusivos, sanitários quimicos imundos…

  3. Poluição sonora, este é o grande mal de nossa cidade. Este local de e eventos está no coração residencial da cidade, o dinheiro foi desperdiçado. O ex prefeito José Raimundo, que tambem sera o proximo prefeito, planejou para este local ser um terminal rodoviario destinado a centenas de Vans que trazem milhares de pessoas para Conquista todos os dias. Tem que ter coragem para acabar com poluição sonora. Os shows devem voltar para as praças como pondera este artido e tem que encerrar as 22 horas, e este espaço ser melhor aproveitado todos os dias e não em tres eventos anuais.

  4. Concordo e SINTO como se fosse eu a autora do texto,sobretudo quando destaca a questão da magia da Barão do Rio Branco(quantos momentos especiais vivenciei ali,quantos lindos encontros,não só com amigos,mas também com artistas que ali se apresentaram),eu senti esta diferença desde o ano passado.O show no Glauber Rocha naquele palco é frio,tipo bate-cartão,o palco não propicia a interação artista-público (maldita quarta parede que nos distancia:mais Brecht,menos Stanislavski,pelo amor!).Isso não tem nada haver com preconceito espacial.A praça Barão do Rio Branco tem um formato teatral(ladeira com palco a baixo)isso favorece o encontro artista-público, e ainda mais, fica no coração da cidade,no meio,onde pula as emoções.Este é um CASE de como acabar com uma projeto especial,sinestésico, que estava sendo um sucesso e transformá-lo numa proposta casual,sem nenhum acréscimo. Além do que, ali tem a Tancredo Neves,AS LUZES,AS CRIANÇAS,a igreja, as casas antigas que nos resta,tudo isso agregado:memória e emoção!O Natal da Cidade perdeu seu ENCANTO!Agora é uma coisa lá e outra cá!

  5. Poderia responder ao texto dizendo, resumidamente, que tudo é uma questão de Pathos. Me dou por satisfeito enquanto a isso, mas reconheço a necessidade de algumas colocações amais.
    Como quase todas as coisas na vida, o que nos salva da falta é a memória – se por um lado ela aumenta-nos a dor, por outro traz consigo um sentimento bom que pesa mais que toda perda. Se hoje nos falta a magia e os encontros, como dito no texto, há que se levar em consideração a necessidade daqueles que hodierno se encontram saudosistas, de uma reinventação de si, e de tudo aquilo que o afeta. Levando em consideração, sobretudo, que outras pessoas precisam experimentar aquilo de outrora tanto vivenciamos. A ida dos eventos para o Glauber possibilitou isso de uma maneira concreta. Inúmeras são as pessoas residentes na Zona Oeste da cidade que nunca foram ao Natal da Cidade – por questões que não cabe aqui enumerá-las, por serem óbvias – ou a qualquer outro evento realizado no Centro, e que agora tiveram a chance de permitir que os encontros aconteçam, já que a magia sempre existiu e sempre existirá, estejamos sensíveis a ela ou não. A vida é fluida. Pessoas e espaços se coadunam nessa colocação sem nenhum tipo de medida. Talvez aí esteja o cerne da questão. Magias e encontros estão acontecendo, senão conosco, certamente com outros novos. Cabe a nós nos permitirmos a eles.

  6. Tudo é uma questão de ponto de vista, como a autora do artigo mesmo diz, de auto reconhecimento. Coloque-se no lugar das pessoas que moram na zona oeste, e a avaliação sobre o espaço muda completamente. Fico pensando, será que a Praça dos Verdes não poderia ser ornamentada?, na Lagoa das Bateias poderia ter a corrida dos Bombeiros? ou na Av. Brumado?. Será que teriam cães, na cãominhada da Frei Benjamin?, ou corredores de rua em outro espaço senão a OLIVIA?. É evidente que quem promove seus eventos privados, tem todo direito de escolher onde deve. Cabe sim, ao poder público diversificar as ações de lazer, para que possamos entender que “È COMO A COISA FOSSE NOSSA”.

    1. Com todo o respeito a autora do texto, mas só li mimimi nesse artigo dela!

      Qualquer coisa realizada fora da Olivia é motivo para “textão crítico” de blog

  7. Vcs parecem pessoas ingênuas,Vitoria da Conquista é uma cidade grande,violência urbana anda solto,moro uma distância razoável da Barão do Rio Branco e ia sempre nas festas lá,mas com o tempo a violência tomou conta do lugar,brigas,furtos no meio da praça e nas vias de acesso era um perigo,grupos de gangues praticavam assaltos,espancamentos e destruição de fachadas de lojas e patrimonio publico.Festas abertas na nossa cidade infelizmente já era,conscientizem disso,só locais fechado e que possibilitam revistas as pessoas,mas ainda existe o perigo fora ao se deslocar,imagine isso ao ar livre novamente,seria um caos.

  8. Acho que o preconceito aos moradores do lado oeste é o que faz os saudosistas não sentirem o calor, a magia existente na praça. Eu não participava há tempos da festa lá pela falta de segurança e pelo aperto de que o autor até sente saudades. Morria de vontade de ficar, mas acabava indo embora por não conseguir sentir-me confortável. Hoje, temos um espaço adequado, grande, bonito e acolhedor sim. Quem diz que não há interação entre público e artista não assistiu certamente aos shows de ontem (20). Antônio Nóbrega que dançou várias músicas com uma espectadora e depois desceu e entrou na roda com um animado grupo. Também não viu o público cantar com Jeneci, que encerrou o show com uma criança cantando com ele lindamente. Desculpem-me aqueles que sentem falta da praça, mas vão ao Espaço Glauber Rocha de coração aberto e olhem as pessoas com amor que a magia reaparecerá.

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