Em Conquista, Blog do Rodrigo Ferraz entrevista Zéu Britto com exclusividade; confira!

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Por Mariana Kaoos

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

Alô alô amantes da cultura de plantão. Hoje e amanhã, aqui em Vitória da Conquista, vai rolar um show bem cremoso com ninguém mais ninguém menos que Zéu Britto. Isso mesmo que você está pensando: garantia de diversão certa. Intitulado Tobogã, o show vai abordar o universo do amor, dentro de uma perspectiva tragicômica. Para falar um pouco mais sobre isso e outras coisitas mais, bati um super papo com Zéu. Chega mais para conferir.

Mariana Kaoos: Suas composições trazem uma narrativa muito forte do cotidiano a partir de um olhar tragicômico. Como ocorre essa criação artística e como você compõe seus personagens?

Zéu Britto: Minha inspiração vem do nada. Ela pode acontecer através de uma palavra, de uma pessoa, de um detalhe que vejo ao andar na rua. Eu sou muito sensível a essas pequenos detalhes e acabo por viver intensamente essa situações, que eram para ser terríveis, mas que se transformam em cômicas pelo meu olhar. Por exemplo, a playboy de Cláudia Ohana foi uma coleguinha de colégio que me deu na mão para eu folhear. Só que eu fiquei tão impressionado com aquilo que compus uma canção. Esse meu olhar nunca parou, sempre se repetiu. Eu comecei a compor com 13 anos. Raspadinha foi com 13. Aí eu fui desenvolvendo isso na minha adolescência. As músicas sátiras, que digo. Depois eu entrei na escola de teatro, com 19, 20 anos e minhas composições mudaram um pouco. Ainda eram carregadas pelo humor , só que com um olhar mais crítico das coisas e abordando outros temas que não só a galhofa. Mas o humor eu nunca perdi, até porque é ele a minha principal via de comunicação.

MK: Na década de 1970 tivemos um grupo chamado Baianos e os Novos Cateanos. Ná década de 1980 outros como Blitz e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. Em 1990 surgiu o Mamonas Assassinas. Todos eles com um forte apelo cômico em suas obras musicais. Você se inspirou, se inspira em algum deles? E para você, qual a importância da leveza e da questão do humor dentro do universo da música?

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

ZÉU: Eu acho importantíssimo o humor na cultura. Por exemplo, Juca Chaves, que era uma entidade debochada na década de 1970, ele sentava com o violão e tocava para uma plateia as crônicas do dia a dia, era quase que uma revista cantada e falada. Eu também sou assim, adoro essa linha de cantor bardo. Outras coisas como os Mamonas, bicho, eles são maravilhosos. A criatividade, a forma de se manifestar sem preconceitos. Da mesma formas, a banda Blitz e essa coisa de se vestir, aquele jeito folclórico do malandro e do brotinho carioca.

Tenho outras referências também. Uma delas é o Secos e Molhados. Veja só que contradição: eles faziam uma música fortíssima em letra e melodia e, em contrapartida, se vestiam e se portavam de uma maneira totalmente debochada, crítica e apelativa para o lado do humor. Aquilo é o máximo. Eu tenho um pouco disso e outras coisas mais. Por conta de minha onda interiorana de Jequié, essa coisa do sertanejo, o chinelinho de couro, a história pé de serra, os causos também são fortes em mim. Eu adoro o contador de causo, porque você não sabe se é verdade ou se é mentira. Mas o pior: é tudo verdade (risos). Um dia me perguntaram numa entrevista, “ô Zéu, é tudo mentira, ne?” e eu disse “É tudo verdade! Porque eu posso ate aumentar uma coisinha, mas eu nunca menti. Tudinho é verdade da silva santos”. Ai as pessoas ficam chocadas achando que é tudo folclore mentiroso. Não é.

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

MK: Complementando essa linha de raciocínio, você acredita que algumas esferas culturais como a música e o teatro perderam um pouco aquele toque de desbunde, de deboche? Afinal, viramos caretas?

ZÉU: Infelizmente sim! Hoje em dia está tudo quadrado. Estamos numa onda de politicamente correto. Politicamente correto num mundo que era pra está transviado. Esses dias me perguntaram o porquê que eu era feliz desse jeito, que isso era quase uma agressão. Pois eu acho uma coisa tão natural a felicidade. É como mijar, cagar, faz parte do meu cotidiano. Hoje em dia ser feliz é algo transgressor.  E a minha música é uma afronta aos nossos dias atuais porque ela é feliz. As pessoas não sabem lidar com isso e a menosprezam. Na verdade é porque ela é feliz. E não pode ser feliz. O povo não deixa. Aí eu insisto numa coisa, na minha arte, porque ela tem que ser assim. A felicidade ainda é visto como uma anarquia.

MK: Dentro das suas apresentações, é possível observar alguma influencia cênica?

Zéu: Eu gosto. Não sou muito adepto a figurino, maquiagem. Prefiro mais a questão da expressão, a palavra pontuada com gestos. A coisa efusiva. A expressão livre. Isso é o que marca. A mim e às pessoas tb. Tem gente que fala pra mim, “poza Zéu, você cantou aquele dia de um jeito tal que ficou na minha cabeça para sempre”. E é isso. Eu gosto de usar sem limites o poder da palavra e da expressão.

MK: Você enquanto artista não deixa de ser um formador de opinião. Como você pensa e se posiciona politicamente falando em relação a todas essas questões sociais pelas quais estamos passando nesses últimos tempos?

Zéu: A bem da verdade é que eu sempre fui avesso a questões burocráticas e, para mim, política está no meio disso. Política é uma burocracia, inclusive, invertida, é um negócio bem esdrúxulo mesmo. Então eu sempre fui caseiro. Tudo eu faço de casa e vivo minha vida meio autista em relação a esses temas. Agora, por outro lado, sempre que tem um levante social eu me posiciono. Na hora do levante. Eu só sinto vontade nessas horas. Que nem a tragédia de Mariana. Fiquei doido. Gravei vídeo, enlouqueci, mandei água, liguei para todo mundo. Isso sim, porque isso é real, é coisa pratica e eu posso contribuir diretamente. Agora tem coisa que eu não posso ajudar.

Em relação a isso do impeachment, por exemplo, ai eu já me abstenho. Ate porque eu não votei nem em um e nem em outro. Eu não gosto dessa corja. Quando você contribui pra baixaria você pode ate pensar “meu deus, o que fazer agora?”, mas eu não contribui. E digo mais, eu tenho um histórico com dona D bem ruim. Dona D, presidenta, que eu soube de coisa dela na Petrobrás, coisa antiga. Então eu não gosto, não tenho paciência. Quando eu vejo essas coisas de golpe, de impeachment, tira esse, bota aquele, me dá logo nos nervos. Acho que no fim o povo vai fazer o que ele quer. Uma hora algum posicionamento será tomado. Vamos ver  o que vai dar.

MK: A respeito do seu mais novo show, Tobogã, qual seu principal cerne e como a ideia surgiu?

Zéu: Nesse show eu faço uma releitura de grandes clássicos da mpb. Sou eu, acompanhado de um pianista. Tobogã é todo voltado para canções de amor. Canções de amor  derramado e sofrido. Eu gosto muito de brincar com isso. Meu próximo disco fala muito desse tema, é a questão do amor de montar.

Escolhi o nome tobogã pra esse show porque causa essa sensação tobogânica de frio na barriga, queda livre. Eu interpreto músicas como Trocando em Miúdos, de Chio e Cais de Milton, dentre outras que não vou falar muito para fazer surpresa para o show. Todas elas, as músicas, estão inseridas num contexto debochado porque acho que o sentimento de amor pode ser visto com outro olhar, um olhar mais leve, de aceitação também. Às vezes é gostoso sofrer por amor, você não acha? E bom, eu estou optando por esses cantores antigos, clássicos, com o intuito de resgatar mesmo. Resgatar é uma maneira de reviver a obra desses autores. Enfim, Tobogã fala de amor e como pode ser engraçado viver essas situações.

Eu pensei nessa proposta de uns dois anos pra cá. Na verdade, estreei o Tobogã no ano passado, num bar que eu tenho no Rio de Janeiro. Fiquei um ano com ele lá em cartaz e agora estou rodando o Brasil e vem dando muito certo.

RAPIDINHAS:

 

SIGNO: AQUARIO

ASCENDENTE: SARGITARIO

LUA: PEIXES

ESTAÇÃO DO ANO: INVERNO

Por quê?: É GOSTOSO.

POR DO SOL OU NASCER DO SOL: POR DO SOL

FRIO OU CALOR: FRIO

CANTOR PREFERIDO: CAETANO VELOSO

CANTORA PREFERIDA: MARIA BETHÂNIA

LIVRO: CEM ANOS DE SOLIDÃO

PERSONAGEM: ÚRSULA ÍGUARAN

PLAYBOY: CLÁUDIA OHANA

RAPADINHA OU CABELUDA: MOICANA

CARNAVAL: NA BAHIA

MELHOR MOMENTO: SAÍDA DO ILÊ NO CURUZU

COR: ABÓBORA

COMIDA: FEIJOADA

PEÇA DE TEATRO: O TOPO DA MONTANHA, COM LÁZARO RAMOS

FILME: O REBUCETEIO

DEBOCHE: LUIZ MIRANDA

FESTA: BURACO DA LACRAIA (uma casa de videokê, na Lapa, no Rio de Janeiro)

TOBOGÃ: FRIO NA BARRIGA



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