Não seja esquecido

atlanta

Por Marcísio Bahia

Marcísio Bahia é colaborador do Blog do Rodrigo Ferraz
Marcísio Bahia é colaborador do Blog do Rodrigo Ferraz

Comunicamos que a morte ocorrida à sexta-feira passada interrompeu a vida de um agitador das massas, de um marginalizado, de um fora da lei. Não tinha posses, andava sujo e descalço, considerado quase um louco patológico a iludir multidões. Foi acusado de traidor e de blasfemador. As evidências contra ele eram tão fortesque as autoridades trabalharam conjuntamente em sua prisão e execução, de modo que foi levado a julgamento após rara manifestação de justiça coletiva “espontânea”, com a massa reunida para a Páscoa judaica escolhendo a execução dele ao invés de um famoso ladrão.

A execução interrompeu uma vida repleta de agitação e uma longa história de ilegalidade. A família dele estava em posse de arquivos genealógicos ilegais e não-sancionados pelo estado, os quais indicavam que o mesmo possuía uma linhagem real e solapavam a reivindicação de Herodes ao trono. Três anos antes, como forma de desafiar as autoridades — se tornou uma figura pública com o auxílio de seu primo João, que por sua vez também foi executado devido à sua falta de respeito para com a figura do rei.

Uma carreira criminosa que incluiu insultos ao rei, chamando-o de “raposa” e de “junco ao vento”; insinuações de que o estado romano deveria prestar contas a Deus, e não o contrário; e maus tratos a funcionários públicos, inclusive a um coletor de impostos e a um membro do Sinédrio (os quais foram ordenados ou estimulados a devolver os bens ao povo de quem haviam tributado de acordo com a lei).

Ainda menino, fora reconhecidamente um inimigo do estado, tendo sido condenado à morte pelo rei, mas agentes estrangeiros subversivos enganaram o rei e, com a ajuda deles, a criança e sua família desobedeceram às ordens legais das autoridades governamentais e fugiram ilegalmente, permanecendo escondidos até a morte do monarca.

Execução sumária e impiedosa. Quem mandou matá-lo está, erroneamente, confiante de que o seu nome será rapidamente esquecido, ao passo que o império irá durar para sempre. O templo construído pelo rei deverá ser eterno, enquanto a punição e o punido deverão ser esquecidos e não terão mais nenhuma importância posterior para a história humana.



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