Larissa Caldeira surpreende com Âmago

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Por Marcísio Bahia

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Há luz atrás do espelho, como por dentro de uma sociedade tão alienada ainda existem possibilidades de regeneração. Na resistência musical, Vitória da Conquista está entre os poucos eixos que produzem música de qualidade, e um dos exemplos está na sonoridade da estreia de Larissa Caldeira, intitulado “Âmago”, CD experimental que rasga o verbo interior de uma artista que conhece muito de música, e dela tenta extrair experiências inéditas aos ouvidos mais atentos, apesar de trazer no trabalho herança dos sucessos de um tempo, não muito distante, passado, sem com isso dizer que está ultrapassado, pois, como vinho, o envelhecimento é salutar e germinativo.

De Cazuza a Arrigo Barnabé, de Cássia Eller a Raul, invariavelmente caetanos e betânias, existe em “Âmago” uma proposta pós-contemporânea, que não vai agradar o ouvido da grande massa que desconhece as nuances musicais e suas tendências, mas certamente encantará públicos específicos, de gosto e pretensões vanguardistas.
Interpretações fortes e de uma ousadia transcendental, enriquecidas com linhas harmônicas de complexidade pouco comum, principalmente no trabalho de raiz, maioria do que é produzido nessa banda sertaneja. É uma colcha de retalhos que extrai do psicodélico, do grito interior e das imagens refletidas na tela uma performance quase teatral de cantar dores, angústias, prazeres e verdades quase letais.

Por fim, é uma experiência fenomenal degustar a realidade musical de Larissa Caldeira, em um CD que deve ter consumido muito de tempo de maturação e acabamento, pois pouca coisa feita nos últimos anos, em termos de gravação musical, tem a complexidade e a rebuscada concepção de “Âmago”



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