Tributo ao nosso Osório jeito de ser

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Por Marcísio Bahia

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Os botecos são a referência do encontro e a marca na vida de muitos conquistenses, boêmios ou não. Muitos desses lendários locais já não existem mais, e a cada perda a cidade empobrece um pouco. Ainda resistem alguns, mas a baixa dessa vez corta-nos na carne. Perdemos Osório, um daqueles compadres onde o melhor que nos servia não era a gelada, a dose, os quitutes, mas sim o congraçamento de décadas a fio de amizades debruçadas sobre o balcão, de encontros regulares ou inesperados. A figura de um homem que dedicou todo seu tempo a ser um elo de formação de outros elos, com sua cativante rabugice, seu conhecimento sobre o futebol, e sua eterna disponibilidade de servir e agradecer sempre a presença dos amigos em seu ambiente de trabalho. Ele soube, mais do que ninguém, fazer do espaço uma extensão da casa dele, e das nossas casas.

Entristece-nos conviver com a perda de um trabalhador dedicado, um pai que transbordava amorosidade, cuidando da família dele enquanto cuidava de nós também, como se dela também fôssemos.  Gastou a saúde no labor diário atrás de um balcão, sendo confidente de nossas dores, senhor de nossos destinos, sempre com a palavra certa brotando do coração de um homem sábio e simples. Tem gente que morre e nos deixa sem palavras, mas a passagem desse Miguelense, mestre do cotidiano, remete-nos ao dicionário de uma vida, onde rasgadas homenagens a sua contribuição à Terra ainda seriam poucas.

Sentimos a falta dele como a de um ente querido, sofrendo as dores caladas que se apossam de nossa alma, pois pessoas como Osório são necessárias e indispensáveis para que a nossa vida sempre tenha uma referência. Ele era o artista do comum, como todos somos comuns, que em sua humildade e simplicidade prostrava em nossa frente um exemplo do que é ser gente, que gostava de pessoas, tratando-as como se deve, do mais abastado ao mais desorientado “pingunço” que pelas bandas da João Pessoa davam as caras.

Referência aquele bar, por cerca de quatro décadas, não somente de vascaínos, mas encontro de jornalistas, artistas; gente de toda ordem, de grupos de amigos rotineiros, no carteado bem discutido, no passar das horas a comentar os meandros da política, a performance dos atletas, a tabela do Brasileirão, a Copa do Mundo, e outros detalhes que somente a opinião de um “botequeiro” consegue  alcançar, dia após dia.

Fica a cidade enlutada nesta última segunda-feira de um agosto sombrio, entristecida em sua essência, lacrimosa em sua saudade, porque um dos insubstituíveis nos deixa órfãos de sua presença, indo com ele um tanto de nossa história, aquela que os livros não mencionam, por quem os sinos não dobram, mas ficará na memória a infinita contribuição de Osório ao nosso complexo jeito de ser uma joia perdida no meio da aridez do sertão.



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