Conquista: sem dinheiro, estudantes lutam para se manter na universidade pública

Por Doni Pereira e Ingrith Oliveira – Estudantes de Jornalismo da Uesb

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O campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista, recebe a cada ano estudantes de todo o Brasil. São pessoas de diferentes origens e condições socioeconômicas, o que determina a permanência delas – ou não – na universidade. Para estes alunos, trabalhos acadêmicos e provas estão entre as menores preocupações.

É o caso de Rogério Rodrigues, de 27 anos, estudante de Jornalismo que está desempregado. Ele mora na cidade de Anagé e os principais obstáculos para continuar sua graduação são transporte e situação financeira. “Umas das primeiras dificuldades que eu tenho é a questão da economia. Estou desempregado e sem renda, e me deslocar de Anagé para Vitória da Conquista tem um custo”, diz.

Sem um trabalho fixo para se manter, ele conta com ajuda da família e trabalhos esporádicos “Aqui faço bico como autônomo, vendo colchão e quando estou sem nenhum dinheiro, tenho apoio dos meus pais que me ajudam”, conclui.

Para tentar resolver problemas como este e outros mais o PRAE (Programa de Assistência Estudantil) foi criado para atender e apoiar estudantes que moram longe do campus onde estudam e garantir que permaneçam na universidade até o fim do curso. O programa oferece bolsa auxílio alimentação, além de ajuda para o transporte urbano e intermunicipal. No entanto, o número de bolsas não é suficiente. “Em 2013 teve pouco mais de 220 pessoas no edital, mas a gente só oferece 140 vagas, então nosso número de bolsas está aquém da quantidade de pessoas que precisam. Por enquanto a gente não tem possibilidade de suprir a demanda porque o valor da verba destinada não dá condição de a gente atender a todos”, afirma Valquíria Fernandes, coordenadora da Assistência e da Residência Universitária.

Por outro lado, sobram vagas na residência universitária: do total de 18, sete estão disponíveis. Gislane Novais, de 23 anos, estudante de geografia é uma das moradoras do espaço há quatro anos. Para ela, a moradia facilitou sua vida, pois o seu curso é noturno e o bairro onde morava é perigoso. Sobre a estrutura do local e a convivência com outros estudantes, ela afirma: “a estrutura não é muito adequada pela quantidade de gente. Atualmente melhorou muita coisa, quando vim pra cá não tinha sofá, computadores e internet, mas agora já temos. A convivência é tranquila e moro com pessoas de diversos lugares e diferentes mentalidades”, teoriza.

Dificuldades

Conseguir se manter nos estudos também é um desafio para Givanildo Ribas, 33 anos, estudante de Administração da UESB. “São muitas dificuldades, tem de fazer muita economia porque gasta-se muito com alimentação, o transporte do meu distrito até aqui e materiais universitários. Nem tenho muito lazer, porque quando chega o final do mês, o dinheiro acaba”.

O estudante mora há mais de um ano na residência universitária e viaja aos fins de semana para sua casa em Bate Pé – distrito 40 km distante de Vitória da Conquista. “São duas horas de viagem cansativa. O ônibus sempre está parando, estrada é ruim, sem asfalto e acaba demorando para chegar”, diz. Givanildo é deficiente físico e quanto à acessibilidade ele declara: “Assim que eu mudei aqui para a residência, eu pedi pra modificar alguns espaços pra me adaptar, me manter, e fizeram uma adaptação no banheiro. Eu não sou cadeirante, tenho como me locomover. Na cozinha e na lavanderia eu uso um banquinho e vou me virando.”

Os estudantes reclamam também da burocracia para usufruir das bolsas oferecidas pelo Prae. “Não tentei buscar apoio da universidade por causa da burocracia que atrapalha. São muitos documentos exigidos e quando você vai participar do processo seletivo acaba ficando sem estímulo”, desabafa Rogério. A coordenadora do programa afirma que esta é uma questão difícil de resolver. “Em se tratando de órgão e dinheiro público sempre irá encontrar burocracia. Seja num hospital ou em qualquer lugar, é inevitável, pois precisamos analisar para selecionar”, afirma.

Segundo a Valquíria, o candidato a alguma bolsa do PRAE que tenha algum membro familiar com deficiência ou doença crônica que o incapacite de trabalhar tem preferência no processo de avaliação. Todos os candidados passam por entrevista promovida pelo Serviço Social que prioriza os que mais necessitam. “Os discentes têm a oportunidade de passar com psicopedagogo e assistência social. Temos cursos livres e gratuitos de inglês e espanhol, matemática, produção textual, visando melhorar o desempenho acadêmico do aluno”, enfatiza.

Apesar dos problemas e desafios diários, Lorena Santos, de 27 anos, que veio da cidade de Patos de Minas (MG) para morar em Vitória da Conquista não desanima. “A principal dificuldade é em relação ao meu filho, pois meu curso é diurno e preciso deixar ele na creche pela manhã. Então, preciso pagar uma pessoa pra ficar com ele a tarde. O dinheiro que gasto para alguém cuidar, poderia estar sendo investido em outra coisa”, enfatiza.

No que diz respeito ao transporte até a universidade, ela destaca: “Meu esposo vem com ela [a criança] de bicicleta, porque o ônibus do Alto Maron sempre está lotado.Temos que ir até a AABB andando e só depois vou pra universidade”.
Lorena ainda busca apoio financeiro da UESB e da família. “Meu esposo tem uma bolsa de iniciação científica. Agora estou no projeto ‘Mais Educação’ e minha família vai ajudando. A gente aperta daqui aperta dali mas consegue viver dessa forma. Isso não me desestimula, eu encaro como um desafio, porque eu quero um futuro melhor para o meu filho”, relata.



Educação, Política, Sudoeste, Vitória da Conquista

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One response to “Conquista: sem dinheiro, estudantes lutam para se manter na universidade pública

  1. Fico bastante sensibilizado quando vejo um jovem com dificuldade de levar seus estudos adiante por questões financeiras. Precisamos divulgar ainda mais o programa de estágio, para que as empresas Conquistenses abram oportunidades para esses estudantes e os contratem como estagiários. O papel principal da lei 11.788/08 é proporcionar o conhecimento prático, mas o recebimento de uma bolsa auxílio e auxílio transporte também são muito importantes, às vezes fazem a diferença entre a continuidade ou não do estudo. É bom lembrar que o programa NÃO gera vínculo empregatício e nem tem a incidência de impostos, mas tem que seguir à risca as regras da lei.

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