Por Luiz Cláudio Sena do Blog do Fábio Sena
Passei a noite em claro, diário. Não posso reclamar das acomodações aqui da Papuda, nem posso reclamar do tratamento distinto que venho recebendo, já que, tecnicamente, não sou o que se pode chamar de um “criminoso”. Pela manhã, quando – junto a meus companheiros de cela – fomos tomar um banho de sol no pátio, avistei José Dirceu e fiquei consternado. Por mais que, do ponto de vista ideológico, estejamos em campos opostos, condoeu-me seu semblante de evidente melancolia. Cabisbaixo, pálpebras inchadas criando uma moldura de precoce envelhecimento e um olhar perdido no infinito. À mão, um livro cujo autor desconheço mas cujo título tomava toda a capa: Eu e Outras Poesias.
Aproximei-me um tanto quanto constrangido. Não sabia como ele iria me receber, dada a minha filiação partidária. Cumprimentei-o com um discreto “e aí, cumpadi!”, ao que ele, com cara de espanto, ao ver-me, disse: “Jesus Prisco!”. Falamos um pouco sobre a ironia de nos encontrarmos ali, despidos nós dois de todo o aparato de sequazes, adeptos e discípulos que, no dia-a-dia fora da cela, nos circundavam.