Mulher e carreira: jarro ou alvo?


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Por Eliane Assunção/Administradora conquistense

liu-233x283Sempre considerei as discussões de gênero muito perigosas e mais complexas que qualquer outra acerca das ações afirmativas por outros motivos. Paradoxalmente, as diferenças biopsicossociais entre homens e mulheres são evidentes, contudo, sua discussão e análise são fundamentais para a eliminação de práticas que expressam valores de desigualdades masculino e feminino, de desrespeito aos direitos sociais, de subordinação, discriminação e preconceito.

Do topo à base da pirâmide social ou dos organogramas empresariais, simplesmente mulher, configura “característica” essencial para se transformar no alvo das observações, dos testes, das críticas, das análises e dos olhares mais minuciosos. Porém, como penso que diria Fábio Sena, melhor ser “alvo” do que ser “jarro”.

Quando somos alvo, a recorrência maior, apesar dos sistemas políticos sociais e institucionais, será buscado na competência, o que a literatura norte americana chamaria de “Carrer Capital” ou habilidades diferenciadas que ajudam o profissional a progredir na carreira.
Como exemplo, em 2011, a revista Exame retratou os feitos das dez pessoas mais importantes na construção e transformação da primeira década dos anos 2000, lá tivemos nomes como Dilma Roussef, Angela Merkel, Sara Palin, ou seja, 30% de mulheres-seria um número favorável? Não sei. Para responder deveríamos discutir os critérios de escolha.l

No mundo das não celebridades, já em 2014, a consultoria de gestão multinacional Accenture realizou pesquisa em São Paulo onde afirma que 71% dos profissionais acreditam que até 2020 mais mulheres ocuparão cargos de chefia.

Ainda assim, a imagem das mulheres diante das suas profissões, como dito pela professora da UFRJ, Marilda Lamamoto, é indissociável de certos estereótipos socialmente construídos sobre a mulher na visão mais tradicional e conservadora de sua inserção na sociedade, principalmente no mercado de trabalho. Aí mora o perigo das mulheres ocupando espaços como jarros, meras figurantes em seus contextos.

Nessa perspectiva, o avanço da carreira para as mulheres, sobretudo em cargos e espaços considerados masculinos, precede a desconstrução dos estereótipos, dos falados mitos femininos, como por exemplo, sexo frágil e posterior construção da competência.
Segundo Morgan, o mundo das organizações segue uma estrutura patriarcal, o que gera, para um grande número de mulheres, a insatisfação com o seu emprego e com as políticas organizacionais, com a falta de flexibilidade diante do papel duplo de mãe e profissional, levando muitas vezes ao abandono do emprego.

Entretanto, as questões de gênero se manifestam também na área de criação de empresas, que sabemos, não envolve apenas o simples ato de abrir um novo negócio, mas também de correr risco, de ser arrojado, tenaz e inovador.

Apesar das frustrações, as mulheres se mostravam menos empreendedoras que os homens e, segundo a organização internacional do trabalho, isso é mais evidente nos países subdesenvolvidos, onde as mulheres buscam muito mais sair de uma situação de emergência que a realização de um projeto pessoal.

Logo, a reconstrução de um projeto onde as instituições possam atrair, reter e promover talentos femininos e que mais mulheres coloquem em prática suas próprias ideias e assumam riscos está vinculada a um novo momento histórico, o que possibilita construir novos valores, novo ambiente e culturas de aprendizagem organizacional e desenvolvimento de líderes, da valorização e reconhecimento de práticas profissionais ultrapassando as barreiras de discriminações sociais, de gênero e etnia, buscando se apropriar de características do comportamento feminino e perfis capazes de alavancar os projetos organizacionais e pessoais.



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