Blog do Rodrigo Ferraz entrevista Murilo Gun: ‘Não gosto de ter essa obrigação de ser engraçado toda hora’


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Um dos principais nomes do stand up comedy do país, Murilo Gun, esteve em Vitória da Conquista nesta sexta-feira (08) para realizar três palestras show para os estudantes da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR). Logo após a maratona, o comediante recebeu a nossa reportagem para um bate papo super bacana sobre a sua carreira e como tem sido esse novo momento profissional da sua trajetória: ser palestrante. Confira a entrevista na íntegra realizada pela jornalista Bia Brito com fotos de Rodrigo Ferraz:

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Blog do Rodrigo Ferraz – Essa é uma proposta diferenciada do stand-up tradicional. Fala um pouco sobre esse processo de criação, de ter um tema  e um público específico, criando um texto a partir disso.

Murilo Gun – Olha, eu adoro fazer isso, eu tenho tesão em fazer essas coisas, ficar analisando o público. É um trabalho meio que de marketing e publicidade. Você analisar o público-alvo e pensar na estratégia. Eu tenho um repertório de textos de stand-up que eu faço em shows por aí. Muitas vezes, do próprio repertório que eu tenho, eu já encaixo. Existem piadas que eu sei que funcionam e que eu vejo que se adequam ao público. Misturo aquelas que eu já tenho garantidas e encaixo com as que crio, atendendo a demanda, apesar que, quando você vai fazer um show por exemplo, para uma platéia de contadores, não é bom fazer piada de contadores o tempo todo. Basta fazer 5 minutos de contadores. Eles querem ouvir sobre o cotidiano, eles são pessoas também. Na verdade eu tenho todo meu repertório de textos diversos sempre disponível para trabalhar.

BRF – Então é bom sempre dosar um pouco…

MG – Até porque humor é um processo de tentativa e erro. Se juntar os 10 maiores comediantes do mundo em uma mesa,para criar piadas, eles não conseguem chegar a um consenso e decidir quais são as piadas que vão funcionar. A única forma de saber é testando. É arriscado você chegar a um evento e vir com tudo improvisado. Precisa ter uma segurança, uma base de repertório para garantir o show.

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BRF – Você falou em tentativa e erro eu lembrei da sua web série que tem esse nome, que é justamente isso, mostra os bastidores de como funciona o processo criativo. E tem muita influência do público. Como é que funciona isso para você, no palco, e também durante esse processo de construção?

MG – Cada lugar o público varia. E é difícil julgar se a piada é boa ou ruim, se ela funcionou naquele público. Na série eu mostro cada piada testada uma vez, mas depois daquilo aquela piada passa por uma bateria de testes, com plateias diversas, até consolidar e fazer com que o texto funcione. O texto pode funcionar naquele dia porque eu falei de um jeito específico ou porque a plateia tem um perfil específico. Você precisa de muito tempo para poder dominar o texto e saber o quanto ele funciona em qualquer plateia ou apenas para um público específico.

BRF – E esse texto que já é preparado para uma plateia específica. Funciona melhor? Você acha que é mais eficaz?

MG – Eu sou um humorista meio científico. Tudo meu é certinho. Eu faço por improviso. Se você pegar o espetáculo inteiro e ver a proporção de improviso, é pouco perante o total. Grande parte do espetáculo é um roteiro em que eu já planejo várias opções de caminho de acordo com a resposta do público. De acordo com o comportamento da plateia eu sigo caminhos diferentes.

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BRF – É mais fácil assim ou não?

MG – É mais fácil pra mim porque é meu jeito. Para outra pessoa é mais fácil de outro jeito. É um método que eu criei pra fazer o meu trabalho. Tem gente que não tem método e faz melhor ainda, entendeu? Na verdade cada um tem seu estilo. Algumas coisas surgem na hora, mas eu tento sempre criar metodologia de tudo que eu faço.

BRF – Essa  receptividade aqui em Vitória da Conquista, para você, como é que foi? O que você achou dessa maratona?

MG – Foi a primeira vez que eu fiz assim, três espetáculos em um dia só, já tinha feito dois no mesmo dia, foi cansativo, mas foi ótimo. Foi interessante para minha análise porque é a mesma cidade, a mesma faculdade, os mesmos alunos, apenas com a variação de turno. Eu pude tirar conclusões internas minhas sobre o que varia o sol, a influência do sol nas coisas, entendeu? As minhas análises de processo criativo foram muito relevantes.

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BRF – Deu pra fazer uma pesquisa empírica? Como é que funciona?

MG – Muita! À noite eu já sabia que ia ser melhor. A escuridão combina mais com o humor, a quantidade de pessoas influencia também. Foi legal para mim, uma experiência interessante.

BRF – E da cidade? Você conseguiu observar um pouco? Já trouxe também piadas sobre a cidade?

MG – Eu sempre quando chego já peço para dar um rolé para poder ‘pescar’ alguma coisa, converso com o motorista, funcionário do hotel, algumas pessoas para poder conseguir informações que ajudem na hora.

 BRF – É diferente fazer humor por região? Por exemplo, você é Pernambucano, mas mora em São Paulo e faz shows em várias partes do país. Quando você está aqui, por exemplo, na Bahia, é diferente? O humor tem que ter uma regionalização?

MG – Eu acho que a regionalização é a cereja do bolo. O show tem que ser regionalizado. São elementos que você coloca para melhorar um pouco. Uma diferença em que eu percebo de cada região, no meu trabalho, é que no Sul e Sudeste as pessoas riem muito do meu sotaque. Enquanto que aqui não riem, acham meio normal. Apesar do sotaque ser diferente do baiano, o baiano é acostumado com os pernambucanos.

BRF – O que você prefere: fazer stand up comedy, aquele tradicional, com texto mais livre, ou esse que tem um texto mais programado?

MG – Eu prefiro muito mais fazer o stand up comedy que envolva conteúdo agregado, que não seja só ‘vomitando’ bobagens, que eu possa passar alguma mensagem relevante. Não gosto dessa obrigação de ter que ser engraçado toda hora. De vez em quando eu passo 6, 7, 8 minutos sem piada nenhuma, só falando coisas sérias. Aí no momento eu percebo que está precisando da piada. Eu não posso chegar em um show que anunciaram ‘stand up comedy com Murilo’ e fazer isso. Eu explico para a plateia que é uma palestra e já cria expectativa de que não vai ser humor toda hora.



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