Sétima Arte em Destaque: Louca Obsessão


cidade verde

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

misery

Um dos maiores pesadelos dos escritores é o bloqueio criativo , encarar a página em branco e não saber como preenchê-la. Curiosamente, este tema esteve muito presente na obra de um dos mais prolíficos autores de todos os tempos, o norte-americano Stephen King. Mesmo publicando romances todos os anos, King jamais deixou de temer o fantasma do bloqueio criativo, e procurou exorcizar este medo criando personagens, escritores como ele, que se viam às voltam com variações do problema. Foi assim em livros e filmescomo“O Iluminado”, e também naquele que é o romance divisor de águas na obra de King. O livro rendeu um bom thriller, cheio de tensão e boas interpretações: “Louca Obsessão”.

Experiente em transportar enredos de Stephen King para o cinema, o diretor Rob Reiner faz em “Louca Obsessão” um bom trabalho. Ele acerta ao manter o foco bem firme sobre os acontecimentos que ocorrem dentro da casa de uma pequena fazenda no território selvagem e gelado. Annie Wilkes (Kathy Bates) é a enfermeira solitária que salva o escritor Paul Sheldon (James Caan) de um terrível acidente, em meio a uma nevasca. Não demora muito para que Sheldon perceba que a moça gorducha não bate bem da cabeça, tem hábitos violentos e, pior ainda, alimenta uma paixão platônica amalucada tanto por ele quanto pela grande personagem de sua carreira, uma mulher chamada Misery.

Com inteligência, Reiner evita manter a ação exclusivamente confinada ao quarto em que Sheldon repousa, com as pernas imobilizadas por várias fraturas expostas. Se assim o fizesse, talvez a história se tornasse árida e aflitiva em excesso. O diretor, também roteirista, cria uma narrativa paralela em que a agente do romancista (Lauren Bacall) e o xerife da cidade onde ele estava hospedado antes de sumir (Richard Farnsworth) investigam o caso, tentando resolver o mistério do desaparecimento. Embora esta trama paralela se revele inteiramente descartável.  É no quarto apertado de Paul Sheldon, porém, que o drama mais terrível se desenvolve, com a colaboração valiosa da excepcional atriz Kathy Bates (premiada com o Oscar em 1991) Oscar merecidíssimo em umaatuação   fervorosa e magistral digna de ser uma das mais impactantes  que já vi na historia do cinema, comparada ao Alex de Macolw Mc Dowell em Laranja Mecânica, e Glen Close em Atração Fatal.

Alternando momentos de doçura e ameaça aterradora, Bates transforma Annie Wilkes em uma psicopata genuína, um vilão de saias inesquecível e amedrontador. Há sequências de poderosa eficiência, como aquela em que Sheldonpersonagem de James  Caanconsegue se arrastar para fora do quarto com a ajuda de uma gazua improvisada; o espectador é mantido encolhido na cadeira através de uma ação apresentada em paralelo. Foi o meu casorsss À maneira de Hitchcock, acompanhamos as ações da vitima  e da vilã, alternadamente, sempre torcendo para que ele consiga escapar da dura punição que viria se a tentativa de fuga fosse descoberta. A tensão aqui é elevada a níveis gloriosos.

E há pelo menos uma cena que vai fazer muita gente se contorcer na cadeira, tirar os olhos da tela. Louca obsessão é um dos grandes e raros suspenses com um QI a mais que nos prende na cadeira do início ao fim, que não usa de órgãos expostos e violência exagerada para nos assustar, aqui é bem mais assustador, são pessoas “reais”, situações “reais” e artifícios do roteiro bastante inteligente que nos envolve nessa história fascinante. Apesar de todos os nomes envolvidos, é principalmente um filme de Kathy Bates. É ela que dá vida ao filme e o torna tão surpreendente e intenso, como um ótimo suspense tem que ser.



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