Sétima Arte em Destaque: A Pele que Habito

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

Banderas e Elena Anaya

Pedro Almodóvar é um cineasta corajoso. Aclamado, reconhecido, premiado, poderia trabalhar em sua zona de conforto e desfrutar os louros da fama estabelecida reciclando o que vem fazendo, e muito bem, ao longo de sua carreira. Ousado, preferiu arriscar-se. Em A Pele Que Habito, (confesso que demorei um pouco pra ver esse filme) chega ao paroxismo da mescla de gêneros levando às telas um filme angustiante, doentio, terrível em alguns momentos, mas com narrativa extraordinariamente sóbria, espontânea, e de uma genuína intensidade criadora.  A Pele Que Habito é um filme diferente na cinematografia do diretor, mas indiscutivelmente um Almodóvar. Estão lá suas obsessões com traição, solidão, identidade sexual e morte. Os planos almodavarianos, os close-ups e as cores – estas mais sombrias – estão lá. A estes elementos típicos de seu cinema, o cineasta acrescentou um misto de ficção científica e horror. Uma amálgama tão complexa, um híbrido tão instável, que somente alguém talentoso como ele poderia ter misturado tais elementos sem criar uma bomba.

A história improvável traz Antonio Banderas como uma espécie de Dr. Frankeinstein, um cientista louco e obstinado, um bem-sucedido cirurgião plástico que, após a trágica morte de sua esposa (que teve o corpo inteiramente queimado em um acidente), parte em busca de uma “pele perfeita”, que poderia tê-la salvado. Sem limites em sua insaciável busca, é capaz de tudo para realizar sua façanha científica. Como os médicos loucos do cinema clássico, recorre a expedientes que variam do questionável ao simplesmente atroz para alcançar seus propósitos. A ‘pele que habito” do título tem diversos sentidos na narrativa, sendo tanto a pele literal quanto a noção metafórica de identidade pessoal. Abarcar o filme num simples texto crítico é tarefa complexa diante da grandiosidade da obra. O filme transita pela ficção científica e o cinema de terror dos anos 1930 em uma trama densa, repleta de melindres, que oferece novas aberturas e pontos de vista dependendo da perspectiva de quem observa, criando um clima essencialmente dúbio que remete ao cinema noir e seus personagens fracos e moralmente ambíguos. Ao longo do filme, Almodóvar vai e volta no tempo construindo a historia de forma que as emoções do espectador fiquem sempre no ar, na expectativa do que pode acontecer no momento seguinte. É notável o domínio do diretor sobre o espaço cênico e sobre os limites de seus atores. Temos um Antonio Banderas impecável e seguro no papel do doutor Robert Ledgard. A bela atriz espanhola Elena Anaya, por sua vez, é uma revelação no papel principal. Um deleite visual explorado em série de belíssimos close-ups no quais se revela por meio de olhares entre resignados e selvagens.

É fascinante ver Pedro Almodóvar, que criou uma estética narrativa própria e se estabeleceu ao longo de anos como um dos grandes cineastas de seu tempo, reinventar-se e apresentar algo totalmente diferente. Seu filme sobre vingança, amor, ódio e os limites éticos da ciência é um brinde à criatividade e ao domínio da técnica cinematográfica. Com toda sua construção o filme é surpreendente mas mesmo ter gostado muito do filme cheguei a seguinte conclusão: Almodóvar é louco



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