Carnaval de Conquista surgiu em 1927

Por Luís Fernandes – Taberna da História

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Antes de 1927 o Carnaval com os cordões, blocos, pranchas, batucadas e alegorias não era conhecido em Vitória da Conquista, conforme relato de Aníbal Lopes Viana em sua “Revista Histórica de Conquista” (vol. 2, p. 516). Consistia em blocos de cavaleiros, montados, mascarados ou não, em cavalos esquipadores, com as selas enfeitadas, numa disputa para conquistar o primeiro lugar como bom cavaleiro.

Havia a brincadeira do “Entrudo”, que consistia em molhar uma pessoa com água perfumada, alguns colocavam até mesmo tinta na água. Com o decorrer do tempo veio a moda das “laranjinhas”, que eram feitas com parafina ou espermacete derretido, usando-se uma forma de madeira. A laranjinha tinham a forma de uma pequena laranja colorida e que se enchia de água perfumada e era atirada em uma pessoa conhecida durante o tríduo do “Entrudo”. Quando uma moça molhava um rapaz com uma laranjinha era um começo de namoro.

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Com o advento do lança-perfume as laranjinhas ficaram fora de moda, sendo substituídas pelo lança-perfume e confetes. Era assim o Carnaval conquistense até a segunda década do século XX. Nesse tempo não havia clubes sociais. Os bailes carnavalescos eram realizados em casas particulares de pessoas amigas, que tinham grandes salas e as vezes nos dois salões do antigo “Paço Municipal”. Os bailes do cordão “Desculpe o Mau Geito” foram realizados nos salões das residências dos senhores Manoel de Andrade Silva e Agrário Silveira, senhores da elite social que deram apoio aos promotores do primeiro carnaval de Conquista.

No dia 27 de fevereiro de 1927 houve o primeiro Carnaval de Rua em Conquista, com a apresentação de cordões e blocos, conforme edição de 15 de março de 1927 do jornal “A Semana”. O tipógrafo Waldemar Coutinho, conhecido por “Gato”, que veio de Itabuna em 1924 residir em Conquista, juntamente com os alfaiates Israel Sampaio, Alcides Alves e João da Silva Lisboa (“João do Querequeché”) organizaram o primeiro bloco carnavalesco, composto por duas dezenas de rapazes, que desfilou pelas ruas da cidade. Este bloco recebeu o nome de “Desculpe o Mau Geito”, pelo fato de seu estandarte (confeccionado pela modista da época, D. Maria da Silva Dias, conhecida como D. Iriô, esposa de Cassiano Dias) ser a figura de um arlequim sentado com as pernas levantadas e sorrindo, posição que era uma falta de respeito naquele tempo.

A fantasia era de calças brancas e camisas das cores amarela e preto e capuz das mesmas cores. Os instrumentos usados foram: flautas, clarinetas, bandolins, violões, pandeiros e caixas, chocalhos e reco-recos. A principal marcha que aqueles rapazes cantaram, trouxeram a letra e a música de Itabuna, de onde vieram, e tinha o nome de “Calundu”. Tomaram parte do bloco: Claudemiro Rodrigues Silva (Cody), Manoel Vitório Bacelar (Nen), Deoclécio Bacelar, Sebastião Bacelar, Steliano Farias, Aristides Lira, Humberto Guerra, Olinto dos Santos Silva, Demócrito Farias, Lauro Moreira (Tuta), Leonel Ribeiro, Eufrásio Piloto, João Chapéu de Pau, Júlio Marçal de Carvalho (Bade), Oscar Silva, Diodélio Lima, entre outros.

Em 1928 o bloco “Desculpe o Mau Geito” transformou-se em um cordão composto de rapazes e moças, dirigido pelo irmãos Bacelar (Sebastião e Deoclécio), sendo diretora da ala das moças a senhora Lydia Nunes (esposa de Celso Governo), cujo cordão tomou o nome de “Mensageiros da Folia”.

Até 1932 poucas pessoas possuíam aparelhos de rádio. As músicas e letras do Carnaval Carioca vinham gravadas em discos que os comerciantes tocavam em suas eletrolas, ocasião em que se copiavam essas letras e músicas. Em 1932 os “Mensageiros” cantaram a marcha “O Teu Cabelo Não Nega”. Mas a maioria das letras dos carnavais do passado conquistense era escrita pelos intelectuais da terra, como Bruno Bacelar, Laudionor Brasil e Yolando Fonseca e musicadas pelos maestros Francisco Vasconcelos, Eufrásio Silva e Manoel da Cruz.



Cultura, Vitória da Conquista

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