Sétima Arte em Destaque: Rain Man

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

rainman-copy-3

Se por ventura pudesse colocar em uma lista de filmes que me marcaram, e que tenho um carinho especial esse filme, sem sobra de duvida estaria entre os 10. Por isso já vou avisando sou um grande fã desse filme , por isso não medi palavras para falar do mesmo em questão, por isso peço desculpa meu caro leitor   se me excedi por demais .

“Rain Man”, obra máxima da carreira de Barry Levinson, faz parte de um subgênero bastante perigoso: os dramas sobre doentes mentais. Não raramente, os filmes do estilo costumam cair no ridículo ao utilizar, tanto na composição de suas personagens, quanto no desenvolvimento de sua narrativa, elementos maniqueístas e superficiais que visam, primordialmente, desestabilizar o lado emocional do espectador para que, subsequentemente, o mesmo venha a comover-se com os clichés habituais utilizados em seus desfechos. Já em “Rain Man”, porém, podemos encontrar justamente o oposto: conduzida com leveza e extrema maturidade, a obra de Levinson consegue trabalhar acerca de um tema sério e polêmico com serenidade e inteligência e, ao mesmo tempo, nos emocionar de forma natural e singela.

No filme, Tom Cruise interpreta um homem que, enquanto partia para um fim de semana de descanso com sua parceira, recebe a notícia de que se pai, com o qual não estabelecia contato há muitos anos, falecera. Mais interessado, devido ao relacionamento de ódio e amargura mantido entre os dois, em receber sua herança do que lamentar a morte de seu genitor, acaba descobrindo que todo o dinheiro, estimado em mais de três milhões de dólares, fora destinado a um portador desconhecido. Para sua surpresa maior, descobre que o homem, na verdade, é seu irmão, um autista que passara a maior parte de sua vida em uma intituição para doentes mentais. Com a intenção de conseguir metade da generosa quantia, foge levando seu irmão à uma viagem e, em meio a ela, acaba descobrindo nele uma peça importante de seu passado, e, consequentemente, passa a dar mais valor àquilo que mais desprezava em sua vida: o amor e a família.

Obviamente, a originalidade não é uma das qualidades mais expressivas da obra. É incontável o número de produções que trazem, como premissa, a história do homem desprezível e egoísta que, aos poucos, passa a ter sua visão da vida reconstituída a partir de sua convivência com alguém especial. Porém, no caso de “Rain Man”, a originalidade exerce um papel insignificante em sua estrutura, já que, inteligentemente, o roteiro jamais tenta parecer singular. Seus maiores méritos encontram-se na forma como a história é contada, e não necessariamente naquilo que é contado.

Sou apaixonado por esse filme, Dustin Hoffman, como Raymond, nos apresenta aquela que, possivelmente, seja a maior e mais complexa atuação de sua carreira, premiada merecidamente com o Oscar de melhor ator. . Sua caracterização é irretocável, e até mesmo imprescindível para o funcionamento da obra. Seu caminhar desajeitado, lento e inseguro, seu olhar vago, aparentemente sem qualquer foco, e a voz anasalada, aliados aos trejeitos corriqueiros de pessoas com a mesma condição cerebral, formam um dos conjuntos idiossincráticos mais interessantes da carreira do ator. Ademais, outro ponto interessantíssimo a ser destacado na composição do personagem, é a naturalidade com que é apresentado o problema mental de Raymond : o Autismo.

Durante toda a duração de “Rain Man”, jamais somos sujeitados a uma análise diagnóstica de suas condições. A complicação psicológica de Raymond é tratada da forma mais natural possível, o que acaba proporcionando uma maior identificação do público para com a personagem. Ele sente, ouve, fala e até mesmo raciocina como qualquer um de nós, e, excetuando suas peripécias acerca de sua facilidade com números e sua memória praticamente infalível, é tratado única e exclusivamente apenas como um ser humano, sem qualquer heterogeinização no tocante ao quadro de personagens, o que é um erro constante em filmes que tratam do assunto (os autistas, no cinema, raramente são vistos como personagens naturais, recebendo características de extrema anormalidade sem que, em contrapeso, possuam referências mais humanas).

Entretanto, toda esta pesada carga moral, quando mostrada de forma séria e desprovida de elementos humorísticos, é extremamente difícil de ser digerida pelo público. Contudo, esta obra de Levinson passa muito longe deste problema: conduzida de forma leve e despretensiosa, a obra conta com diversos momentos de humor e, em alguns deles, nos resguarda suas melhores cenas. Porém, os momentos de humor não se resumem a pequenas cenas soltas dentro da narrativa. Desde o início, o filme é recheado de momentos engraçados e até mesmo hilariantes, o que torna “Rain Man”, mesmo tendo uma narrativa de clara conotação dramática, um filme divertidíssimo de se ver.

Enfim, “Rain Man” (título que, por sinal, tem um bonito significado dentro da obra), produção de Barry Levinson vencedora de quatro prêmios da Academia (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator – Dustin Hoffman e Melhor Roteiro), é um dos mais simpáticos e agradáveis road-movies do cinema. Intensamente interpretado, sabe dosar com extrema competência as pretensões dramáticas de sua história com a leveza e a comicidade típicas das obras da década a que pertence. Ademais, ainda é uma das histórias mais lúcidas e inteligentes em retratar a vida e as características de uma pessoa mentalmente debilitada, o que já garante ao filme uma importância ímpar dentre as obras do gênero. É um filme que emociona e diverte de maneira equilibradíssima, e que jamais tenta persuadir o espectador à comoção ou às lágrimas. Dificilmente será encontrada, no cinema contemporâneo, uma obra tão singela e humana quanto esta Para quem não viu veja. Considero Rain um filme obrigatório para todo e bom amante da sétima arte.



Artigos, Cultura, Vitória da Conquista

Comentário(s)