Sétima Arte em Destaque: Quem Tem Medo de Virginia Woolf?

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Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

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Raras obras conseguiram ser tão amargas  e tristes quanto “Quem tem medo de Virginia Woolf?” cito esse termo para fazer uma análise da mesma levada do teatro para o cinema . Através dos diálogos ácidos de um casal em crise, Mike Nichols nos apresenta um profundo estudo da alma humana, mostrando como podemos ser cruéis, especialmente com as pessoas mais próximas. Contando com atuações sensacionais e um roteiro brilhante, o diretor entrega um filme depressivo, perturbador e difícil de ser digerido pelo espectador.

Baseado na Peça de Edward Allbe, o filme consegue ser fiel a peça capturando seu espírito melancólico e depressivo, certo que existe algumas  diferenças, até mesmo porque o cinema vai além do teatro, sendo rico em detalhes técnicos e narrativos , como a belíssima cena em que George personagem de Richard Button, pega uma arma e se dirige até a sala  lentamente  embalado por uma trilha tensa. Na peça, é descrita com rubricas , já o filme mostra um plano sem corte algum , mostrando a ação de George e ilustrada com a narração de Marta criticando o mesmo,  ao fim da sequencia, a tensão estabelecida  dar lugar ao alivio cômico, devido a atitude do personagem. Outra diferenciação é a cena em que George conversa com Nick personagem de George Segal , eles vão para o jardim,cenário que não é descrito na peça , como também a cena que os dois casais, saem da casa e vão para um bar, isso garante um certo tom a mais o filme, característica essa  em que o cinema pode ir alem das fronteiras do palco.

Os Personagens, , que são interpretados por um elenco sensacional. Repare, por exemplo, como todos conseguem ilustrar com precisão os efeitos do álcool de maneiras diferentes e como a movimentação coletiva em cena dá dinamismo ao longa  o que é essencial numa trama que se passa em cenários fechados. Individualmente, o grande destaque é mesmo Elizabeth Taylor, que tem uma atuação fantástica como Martha, compondo uma personagem amarga e sufocante, que não mede palavras para agredir o marido de todas as formas que puder. De fala incorreta e risada histérica, Martha é uma mulher depressiva, que encontrou em George o parceiro ideal para seguir em seu caminho de autodestruição. Possessiva e dominadora, ela transmite confiança quando fala e não hesita em revelar os mais profundos segredos do marido se isto for atingi-lo de alguma maneira. Por outro lado, Martha sabe da importância que ele tem em sua vida e deixa isto claro no tocante e amargo monólogo em que confessa o amor por George ao mesmo tempo em que evidencia sua melancolia, num momento sublime da atuação de Elizabeth  Taylor.

Com excelentes atuações, um roteiro excepcional dando ainda mais brilho a  peça de Edward Allbe e a direção eficiente de Mike Nichols, “Quem tem medo de Virginia Woolf?” é um drama sufocante, que faz um estudo complexo de dois personagens destrutivos e nos conduz com intensidade até o seu desfecho perturbador. Explorando os pontos fracos dos “oponentes” sem piedade e aproveitando as mais íntimas confissões de cada um deles, os personagens do longa demonstram o quanto o ser humano pode ser cruel. Afinal, ninguém pode nos ferir mais do que aqueles que nos ama  que tanto sabem sobre nós.



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