Sétima Arte em Destaque: Faroeste Caboclo

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

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Adaptar um livro,peça para o cinema é uma tarefa árdua, que exige muito do responsavél a adaptar a obra em questão , as vezes não agrada a o grande publico porque são meios diferentes para se contar uma história. Agora imagine, a adaptação de uma musica para o cinema? E não é uma musica qualquer , é uma musica que se fez presente por varias gerações do rock nacional.  Para entender ou homenagear um artista, principalmente desses bem especiais como Renato Russo, um, a cinebiografia pode não ser a melhor escolha. É tradicional demais para o padrão de convenções que eles, artistas, dificilmente respeitam. Talvez por isso (e também por outras tantas escolhas ruins) que “Somos Tão Jovens” soe inapropriado, “bonitinho” demais para refletir as insatisfações e perturbações do líder do Legião Urbana. Este “Faroeste Caboclo” o representa melhor, tanto por ser cinema de mais qualidade, em todas as suas destrezas técnicas, quanto por fugir de gêneros habituais, apresentando-nos a um western trágico como pede a canção que o inspira.

Tendo como um de seus principais acertos o fato de não seguir à risca a história que a música conta, a trama capta a essência da vida turbulenta de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), um homem que tem os próprios códigos morais, bastante destemido, que não hesita em  fazer justiça com suas mãos. É assim que ele chega a Brasília, apresenta-se ao distante parente e traficante Pablo (César Trancoso), foge da polícia corrupta, conhece Maria Lúcia (Ísis Valverde), apaixona-se, passa a ser odiado pela gangue concorrente e protagoniza um dos duelos mais conhecidos da história da música brasileira, com o covarde Jeremias (Felipe Abib).

E tudo acontece com muita intensidade. René Sampaio, estreando na direção de um longa-metragem, realiza um trabalho que é tão violento quanto apaixonante. É fácil ser envolvido por essa história idealizada, mas com doses exatas de realismo. Tudo porque não há exageros no trabalho de Sampaio. Seu faroeste guarda momentos de planos mais ousados, típicos do gênero, como no embate final, e em vários em que exalta a força de João, apenas realçando seus grandes e amedrontadores olhos. Em outros, ele deixa-se levar pela poesia, pela pura sensibilidade, o que ajuda a dar a película um ar de originalidade tão especial.

O principal erro aqui encontra-se na escalação de Felipe Abib. Exagerando na composição de Jeremias, seja ao deixar de lado a obsessão dele por Maria Lúcia ou fazê-lo um estereótipo de vilão, o script e o ator acabam por fazer com que o antagonismo entre ele e João perca força. Essa função é melhor exercida pelo Marco Aurélio de Antônio Calloni, o policial corrupto que não hesita em humilhar o rapaz. Talvez a conexão desagradável que João possua com profissionais irresponsáveis da área, desde sua infância, coopere para que o público “identifique-se” mais com a rivalidade entre os dois.

Mas de resto, é uma história fascinante,  , que desenvolve e amplifica a mensagem da música. Personagens novos são introduzidos, a infância de João é reduzida em tempo, mas não em impacto psicológico, e modificações do destino do personagem principal demonstram-se necessárias. Mas nada é gratuito e desrespeitoso. Pelo contrário. “Faroeste Caboclo” entende a essência do universo criado por Renato Russo e sua Legião Urbana ainda em 1979 e faz dele algo extremamente vistoso e intenso, que se não é tão transgressor quanto a música, deixa sua marca na mente do público.



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