Brasil: O país em que água sanitária e desinfetante te levam para a cadeia, mas não “limpam” a corrupção

Por Luan Vinícius Ferreira – Estudante de Jornalismo da Uesb

1481353_735280183167235_104092_n

Que rufem os tambores!

Após os protestos que marcaram o Brasil no mês de junho, justiça condena homem a 5 anos de prisão por portar artefato explosivo durante manifestações. A primeira condenação de pessoas que participaram das manifestações, no Brasil, não é a de Genuíno (não é!), não é de Dirceu (muito menos), não é de qualquer político envolvido com mensalão, helicóptero com cocaína, desvio de verbas públicas, improbidade administrativa, mas sim, de um catador de latas de 26 anos.

Rafael Braga Vieira foi condenado na segunda-feira, 2, pela Justiça à prisão em regime fechado. Segundo a polícia civil, o rapaz foi flagrado portando dois frascos de coquetel molotov. O réu declarou, em depoimento, que em um dos frascos havia desinfetante e no outro, água sanitária. Os frascos estavam em uma loja abandonada, no Centro do Rio de Janeiro.

A versão do réu foi considerada pelo juiz, Guilherme Schilling Pollo Duarte, “pueril e inverossímil”. Mas, com tantos casos de armação da polícia, relacionados aos protestos de junho, fica até difícil acreditar na versão policial.

O laudo pericial atestou que “o etanol encontrado dentro de uma das garrafas pode ser utilizado como combustível em incêndios com capacidade para causar danos materiais, lesões corporais e o evento morte”.

Beleza. Para mim, o laudo não diz muita coisa, afinal, na composição dos desinfetantes tem etanol e na composição da água sanitária não. Em tese, a versão do réu, no mínimo, deveria ser classificada de outro modo pelo Juiz. Assim, lhe pergunto: quem estava falando a verdade nesta situação: a polícia ou o réu?

Ok, o réu não era tão bonzinho assim. Era foragido. O crime [dele], básico para moradores de rua, era dois roubos. Por esse quesito, o juiz não permitiu Vieira recorrer da sentença para cumpri-la em liberdade.

Agora vem a parte engraçada da história: você deve estar querendo saber, não é? Vamos lá!

Não sei se posso classificar como engraçada, mas no mínimo hilária essa história. Fico com pena do cara. Se ele fosse político, teria direito a embargos infringentes; se fosse deputado em Minas Gerais, tivesse usado seu helicóptero, a gasolina da Assembléia Legislativa para fazer uns passeios, pousasse na fazenda de um senador, ninguém iria ficar achando que a cocaína encontrada no helicóptero DELE, era dele. Acho mais fácil desconfiarem de mim, de você, do seu vizinho, da sua MÃE. Afinal, ele é DEPUTADO.

Considero esse cara, Vieira, meio burro. Porque ele não se candidatou e elegeu-se a prefeito? Poderia roubar bastante, fazer algumas obras pela sua cidade (pra mascarar o roubo) e, depois, lá na frente, quando o Tribunal de Contas da União descobrisse que ele fez mau uso do patrimônio público, teria apenas que pagar uma multa, nada muito grande e que, com certeza, ele teria dinheiro pra pagar. Ah, também não iria pra cadeia. Ele seria político, teria delação premiada para lhe salvar de mais esse embaraço.

Cara besta esse Vieira, deveria ter feito parte do esquema do mensalão: seu julgamento teria demorado anos e, enquanto isso estaria em liberdade, podendo até ser deputado; teria a possibilidade de recursos e mais recursos; quando condenado a 5 anos, cumpriria a pena em regime semi-aberto; poderia trabalhar em um hotel 4 estrelas em Brasília e ganhar R$ 20.000 (vinte mil reais) por mês.

Outra artimanha seria um pouco mais difícil, mas não impossível: adquirir dupla nacionalidade. Se não houvesse se esquecido de adquirir a sua, neste momento – condenado no Brasil -, poderia pegar um jatinho e ir para a Itália. Agora, enquanto todos os bestas estariam aqui a sua procura, ele estaria lá, passeando, comendo, namorando.

Mas não, o cara é mesmo muito burro: não ensinaram pra ele que lutar por seus direitos é crime; não lhe avisaram que água sanitária e detergente você só pode ter em casa, na rua é explosivo; não lhe ensinaram que, quando estivesse com fome e, às vezes, por esse motivo – e pelo abandono social que, em muitos casos leva o indivíduo ao uso de drogas para saciar sua fome -, era melhor morrer, se jogar da ponte com uma pedra na cabeça (ou algo parecido) do que roubar duas vezes para saciar sua necessidade. Acho que ele não leu o clássico de Victor Hugo, “Os Miseráveis”, para descobrir que roubar pães para matar sua fome e a de sua família tem como conseqüência cumprir 19 anos de prisão nos Gales.

Ou seja: faltou educação, faltou cultura, faltou saúde, faltou moradia, faltou respeito, faltou saneamento básico, faltou dignidade, faltou justiça. Faltou tudo para esse rapaz. Ele não é santo, mas também não é tão pecador como os que lhe impuseram tantas necessidades.

Agora parem com os tambores, já chega de música.



Artigos, Bahia, Brasil, Política, Vitória da Conquista

Comentário(s)