Sétima Arte em Destaque: As aventuras de PI

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

As-Aventuras-de-Pi-16Nov2012

Ang Lee é um diretor impressionante, pela diversidade de seus filmes. Ele já fez trabalhos tão distintos quanto a adaptação de um super-herói dos quadrinhos (Hulk), um drama de forte tensão sexual (Desejo e Perigo), a história de um amor homossexual proibido (O Segredo de Brokeback Mountain) e um típico filme de artes marciais (O Tigre e o Dragão). Pode-se dizer que Lee jamais se repete, transitando em diversos gêneros e estilos com uma habilidade rara de ser encontrada. Em As Aventuras de Pi ele mais uma vez se reinventa e, novamente, obtém sucesso.

A sensação de ser surpreendido por um filme nos dias de hoje é deveras rara, especialmente considerando o bombardeio de peças publicitárias que o público está sujeito. Mas este “As Aventuras de Pi” consegue não apenas pegar a audiência no contrapé, como também entregar um produto bem mais interessante que a simples “aventura” prometida em seus trailers e em seu infeliz título nacional. O filme é extremamente corajoso, não apenas do ponto de vista narrativo, mas também do ideológico, abraçando diferentes crenças e trabalhando com um estilo de montagem tão particular quanto a fé do personagem-título. No “presente”, o pacato indiano Pi Patel (Irrfan Khan) é abordado por um escritor canadense (Rafe Spall), que o questiona sobre sua vida após a indicação de um amigo em comum dos dois.

Entretanto, definir As Aventuras de Pi apenas como um filme belo seria reduzi-lo bastante. Há um forte lado religioso impregnado na história, de início pregando a possibilidade de que alguém possa ser temente a três crenças ao mesmo tempo. “A fé é uma casa de muitos quartos”, diz o já adulto Pi em determinado momento. Deixando de lado a crítica indireta de que todas as crenças são, de certa forma, iguais, há um nítido esforço no filme para que nenhuma das religiões citadas seja, de alguma forma, ofendida. Este excesso de politicamente correto prejudica bastante o início do filme, pela obviedade e falta de profundidade com que é tratado o tema. Pi acredita em três religiões e ponto final, sem mais questionamentos.

O título “As Aventuras de Pi” logo se mostra deveras equivocado. Ora, a produção não narra uma aventura, mas mostra um narrador contando sua história. O público torna-se ouvinte de Pi em uma retrospectiva de sua vida, filtrada através de sua memória afetiva e incrível imaginação. Ang Lee abraça esse conceito e percebe que não está lidando com uma narrativa “factual”. O cineasta usa a tela para pintar um quadro com todas as nuances de seu protagonista, nos mostrando como o Pi adulto enxerga o mundo e as lembranças de seu “eu” mais moço, com todas as idealizações possíveis.

O escritor vivido por Rafe Spall não representa o autor Yann Martel, mas ao próprio público que, após a sessão, decidirá como irá aceitar o que lhe foi contado. Ao dar esse salto de fé, acreditando em seus espectadores, o longa já demonstra respeito para com estes, algo que já o torna digno de admiração, mostrando que Ang Lee e David Magee entenderam o espírito desta magnífica história.



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