Vitória da Conquista 2013 – Por Ubirajara Brito

Por *Ubirajara Brito

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Vitória da Conquista é polo de uma região formada por 11 municípios do norte do Estado de Minas Gerais e 89 municípios do Centro-sul e Sudoeste da Bahia, com uma população de aproximadamente 2 milhões de habitantes, que se espalha ao longo de 500 km, por 150 km de largura, da BR 101 às barrancas do São Francisco. Um quinto desse território era coberto pela Mata Atlântica; cerca de um décimo, pela Mata de Cipó autóctone do planalto; e em mais de três quintos predomina a vegetação xerófila da Caatinga. A cidade é circundada por um anel viário da BR 116 (Rio-Bahia), e dista 100 km, em linha reta, da divisa com Minas Gerais.  Sua população fixa aproxima-se das 340 mil almas, sendo assim a terceira do Estado, após Salvador e Feira de Santana e a quarta do interior do Nordeste, depois de Teresina, Feira de Santana e Campina Grande. Sua população flutuante pode chegar aos 40 mil nos dias de pico.

Situada numa porção do altiplano, entre 900 a 1100 metros acima do nível do mar, Conquista tem clima ameno, com temperatura no verão que oscila entre 23oC e 32oC durante o dia, e 13oC e 22oC à noite. O inverno é frio, com temperatura mínima variando entre 6oC e 13oC, e a máxima, entre 16oC e 25oC.

A economia local, em produtos primários, é representada pela cafeicultura, com um potencial de um milhão de sacas/ano, e uma nascente cultura de eucaliptos, pela bovinocultura e agricultura de subsistência. Os serviços, com ênfase no Comércio, Saúde e Educação, representam mais de 60% do PIB, que é, per capita, quase 13 mil reais.  Renda per capita esta que numa distribuição milagrosa permite que a cidade não possua uma única favela.

Nos serviços, destaca-se o Comércio com 9 mil estabelecimentos, 60 mil assalariados e mais de 10 mil dirigentes ou proprietários. Neste Comércio, aparecem três supermercados da rede Santo Antônio, dois do grupo Rondelli, dois hipermercados da rede Walmart, dois supermercados da rede GBarbosa e um superatacadão Carrefour, um grande shopping center e um segundo shopping, Boulevard, em construção.  Alguns empreendimentos locais ultrapassaram os limites do Município e se transformaram em redes regionais e nacionais, dos quais os exemplos mais expressivos são as Lojas Insinuante, Silva Calçados e Comercial Ramos.

Vitória da Conquista dispõe ainda de duas emissoras de televisão e sete emissoras de radiodifusão.

A cidade conta com cerca de mil médicos em instituições públicas e clínicas privadas, e mil e duzentos leitos hospitalares. Apenas cirurgias para transplante de órgãos ainda não são realizadas nas clínicas locais.

As instituições superiores de ensino, quatro particulares (FAINOR – Faculdade Independente do Nordeste, FTC – Faculdade de Ciência e Tecnologia, Faculdade Juvêncio Terra, Faculdade Santo Agostinho em fase de instalação) e três públicas, representadas estas últimas pela Universidade do Sudoeste da Bahia, um Campus da Universidade Federal da Bahia e um Campus do Instituto Federal da Bahia, apresentam matrícula aproximada de 20 mil alunos, de graduação a pós-graduação, e contam no corpo docente com cerca de 200 doutores e 300 mestres. Metade destes 20 mil alunos são jovens habitantes de outros municípios da região.  A Universidade do Norte do Paraná, atuando na Educação à Distância, tem em Conquista o segundo mais importante núcleo do Nordeste e entre os dez do Brasil, com matrícula que ultrapassa 3 mil alunos. A UNOPAR funciona do prédio do Colégio Opção.

Vitória da Conquista passa por uma fase de vertiginoso crescimento, associado a uma significativa carência de mão de obra qualificada para atividades de ponta. A ineficiência da educação fundamental e de segundo grau é medida nas avaliações efetuadas pelo Ministério da Educação. O crescimento se dá, principalmente, pela junção de fatores ligados a poupanças, propiciadas pelo comércio, e pelos serviços médicos e de educação superior privados. Tais fatores contribuíram para um “boom” na indústria da construção civil, elevando o consumo de concreto usinado a 85 mil m³ por ano, um pouco superior ao que se consome nas cidades de Ilhéus, Itabuna e Feira de Santana somadas.

Ressaltem-se ainda os serviços bancários existentes na cidade: cinco Agências do Banco do Brasil, sendo uma Estilo; três Agências da Caixa Econômica; duas Agências do Banco do Nordeste; três Agências do Itaú-Unibanco; quatro Agências do Bradesco; uma Agência do HSBC; uma Agência do Santander; uma Agência do Banco Panamericano e duas Agências de Cooperativas de Crédito locais.

A frota de automóveis e caminhonetes atinge 65 mil veículos, o que dá um veículo para quase cinco habitantes. A frota de motocicletas chega aos 30 mil.

O aeroporto local, operado pela Azul e Passaredo, tem uma frequência de 14 decolagens e pousos diários, fechando-se, frequentemente, devido a neblinas no inverno e bruma seca no verão.

O crescimento e desenvolvimento de Conquista são propiciados pela participação predominante da iniciativa privada, e pode sofrer acentuada desaceleração na próxima década, por culpa de alguns problemas não resolvidos na cidade e região. O serviço de abastecimento de água é precário; o aeroporto não pode receber aeronaves de maior porte, acima de 30 toneladas, e não dispõe de equipamentos para decolagens e pousos na ausência de visibilidade a olho nu. O centro da cidade tem trânsito caótico e congestionado, por inexistência de terminais rodoviários intermunicipais e intramunicipais na periferia, e inexistência também de um esquema articulado e dinâmico de transporte de massa, o que poderia ser pensado a partir de um Eixo VLT (Veículos Leves sobre Trilhos) oeste-leste, percorrendo o vale do Verruga, e indo da Lagoa das Bateias ao Campus da Universidade Estadual, com derivações em espinha de peixe para o norte e para o sul.  Todo o transporte urbano converge para um único ponto, centro da cidade. As passagens de nível que cruzam o Anel Rodoviário em direção a Barra do Choça, Itambé e Brumado carecem de ser transformadas pela Concessionária da  Rio – Bahia em trevos articulados com os diversos destinos. A construção de um Porto Seco é indispensável, a fim de que a carga e descarga de caminhões pesados não sejam feitas dia e noite e por toda parte, obstruindo o trânsito de pedestres e automóveis. A construção de um Centro de Abastecimento, assim como a implantação de um Centro Administrativo, que reunisse todas as repartições municipais, na periferia aliviaria ainda mais o trânsito no centro.

A vinculação definitiva das cidades do Norte de Minas Gerais a Vitória da Conquista seria garantida com a pavimentação dos pequenos trechos de estradas, ligando Maiquinique a Jordânia (35 km), Encruzilhada a Mata Verde (30 km), Cordeiros a São João do Paraiso (30 km), Mortugaba a Montezuma (21 km), Carinhanha a Manga (64 km) e, dentro do Estado, Condeúba a Mortugaba (47 km)

A Educação Básica encontra-se sob a responsabilidade do Município (40 mil alunos), do Estado (20 mil alunos) e da Iniciativa Privada (13 mil alunos). A Educação de Nível Médio (17 mil alunos) é toda ela de responsabilidade do Estado, a exceção de quatro centenas de alunos matriculados no Ensino Técnico Federal. Providências precisam ser tomadas a fim de que se adquira, na Educação Básica e de Nível Médio, qualidade significativa, ou, no mínimo, se recupere a qualidade de outrora. Ressalte-se também a necessidade de que se implante a Universidade Federal do Planalto de Conquista e se elabore um programa de ensino técnico público, para que seja oferecida oportunidade de boa formação às populações mais carentes.

No que diz respeito ao meio ambiente, é indispensável a despoluição e drenagem do Córrego Verruga, transformando as áreas verdes que o ladeiam em parques e áreas de lazer. Assim como encetar e manter um programa contínuo de arborização das vias públicas, e redimensionar e adequar a iluminação pública da cidade.

Na Cultura, Conquista possui um Conservatório Municipal de Música, duas escolas de música privadas, três teatros, uma Biblioteca Pública Central, quatro auditórios para mais de trezentas pessoas, um complexo de eventos (Miraflores) para mais de 10 mil pessoas, quatro museus, uma Casa da Cultura e uma Academia de Letras.

O cineasta Glauber Rocha, o compositor Elomar Figueira e o poeta Camilo de Jesus Lima são filhos desta região, onde também nasceram Aritides Spinola, César Zama, Plínio de Lima, Hermes Lima, Milton Santos, Abílio César Borges, Lafaiete Spinola e Rodrigues Lima. É o Sertão da Ressaca expandido até o Velho Chico, e que tem Vitória da Conquista como fulcro e capital.

Até agora os governos, em todos os níveis, não se preocuparam em identificar, na estratégia global de desenvolvimento do país, a vocação industrial deste Planalto e sua Metrópole. Tampouco cuidaram de induzir a implantação de indústrias capazes de alavancar o Produto Interno Bruto e o Desenvolvimento Sustentável da região.

*UBIRAJARA BRITO

Ex-ministro da educação, físico nuclear e engenheiro civil formado pela UFBA, escritor, ex-professor da Universidade de Sorbonne, na França



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